As PCHs e o Patrimônio Arqueológico-Ambiental Regional e Nacional

 

 A construção de mais de mil barragens no Brasil pode representar um grande e definitivo golpe ao patrimônio arqueológico e ambiental nacional. Com efeito, o Brasil vive um preconceito grave a respeito de história e arqueologia. É difundida a opinião que se trata de um país recém criado e que não tem cultura histórica. Esse preconceito bloqueia muitas vezes qualquer caminho que se queira trilhar para construir, preservar e resgatar o patrimônio nacional histórico-arqueológico.

Faltando a pesquisa, continua a ignorância da riqueza escondida, o que facilita qualquer operação comercial, com o risco de deixar sepultada para sempre uma riqueza inestimável. Nas diversas épocas históricas as tribos sempre procuraram construir suas moradias nas beiras de rios. As raízes indígenas de nosso Brasil são encontradas nos vales e ao longo dos rios. Nesses lugares deixaram suas pegadas.

Os projetos de construção de mil PCHs inundando e alagando uma grande parte do território brasileiro, pode representar o sepultamento definitivo de uma parte preciosa de nossa história. A mesma cachoeira de Salto Grande que deu o nome ao povoado Salto Grande do Paranapanema era santuário indígena. Várias tribos moravam na região onde foi construída a UHE. Em 1990 tinham sido iniciadas as escavações arqueológicas bem ao lado da barragem, onde foi encontrado um “cemitério indígena”, mas a pesquisa não foi completada. As bacias do Paranapanema, do Tibagi, do Rio Pardo e dos muitos rios brasileiros, são ricas de sítios arqueológicos. Cimentar e alagar essas áreas significa não permitir um futuro promissor de preservação de um patrimônio regional e nacional e de atividade culturais e turísticas no Brasil.

As PCHs – Pequenas Centrais Hidrelétricas que estão sendo projetadas ou em construção no Brasil são mais de 1000. Chamadas PEQUENAS pra ser mais fácil obter as licenças ambientais, na verdade são maiores que a de SALTO GRANDE-SP.

A barragem de Salto Grande tem 20 metros de altura, as chamadas “pequenas” terão 30 metros. A construção da UHE de Salto Grande inundou a Ilha da Padroeira N. Sª. do Patrocínio. Na ilha, no final de 1800, foi encontrada a Imagem da Santa que deu origem à devoção e às tradições religiosas da cidade.

Um nicho na Ilha e, desde 1941, uma gruta com a imagem da Santa, eram santuário religioso para o povo de Salto Grande que organizava romarias até essa Terra Santa. Uma Romaria de barcos com Missa campal a cada ano marcava a vida religiosa da Comunidade.

 Tudo isso foi sacrificado, perdido! Em 2008 foi apresentado projeto para a Duke Energy para resgatar essa memória com um lugar de referência religiosa na beira rio, um cruzeiro, um nicho para a imagem de NS do Patrocínio, um embarcadouro simples para a saída da Procissão de barcos (53ª edição – Outubro 2011), que substituiu desde 1958 a romaria na ilha.

O projeto foi apresentado ao Presidente da Duke em Salto Grande no dia da comemoração dos 50 anos da Usina, pelo prefeito Waldemar Correa, pelo pároco Pe. Giovanni e outros representantes da Cidade, até hoje está sem resposta!

Assim, que nossa triste experiência possa servir para as outras mais de 1000 Comunidades no Brasil afetadas pela construção das mais de 1000 PCHs – Pequenas Centrais Hidrelétricas, 9 das quais no Rio Pardo, sendo 3 em Santa Cruz do Rio Pardo SP.

Cachoeira Guacho Santa Cruz do Rio Pardo: Foto mostra a direita como uma escada natural para o peixe

ARQUEOLOGIA E RIO PARDO: O Relatório de Impacto sobre o Meio Ambiente (RIMA PCHS, Processos SMA 256/2009, 258/2009 e 259/2009) do Rio Pardo pagina 82 diz  “Os estudos realizados na área que será inundada pelo reservatório apontam para 3 sítios arqueológicos e 7 áreas de ocorrência arqueológica, estas localizados principalmente próximas à PCH Santana. Tais vestígios remetem à ocupações indígenas de grupos caçadores-coletores (desde 9.500 a.C. até 450 d.C) ou grupos ceramistas diversificados.

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